Meir Schneider e Carol Gallup
Tradução: Susan Collard
Revisão: Beatriz Nascimento
Quando Terrie Yardley-Nohr introduziu terapia de massagem no acampamento para crianças com distrofia muscular em St. Louis, Missouri (EUA), ficou impressionada com a receptividade: “todos queriam deitar-se na maca; foram incríveis os pedidos. Se alguém não podia deitar-se na maca, eu o atendia na sua própria cadeira de rodas. Perguntava-lhes onde queriam que eu os massageasse. Cada um tinha uma dor, ou desconforto peculiar, e alguns tinham regiões dormentes que queriam sentir novamente. Esses jovens necessitavam desesperadamente ser tocados. Alguns desses corpos na maca pareciam uma bola de borracha, – tanta musculatura perdida tendo sido substituída por tecido conjuntivo.
“Haviam 52 jovens acampados com idades variando de 6 a 21 anos, sendo que 42 estavam em cadeira de rodas”, continuou Yardley-Nohr. “A maioria desses jovens tinham Duchenne (Distrofia Muscular de Duchenne, uma forma fatal de distrofia, cujos sintomas surgem na infância). Podia-se acompanhar toda a história natural da doença observando as diferentes idades – os de 6 anos podiam se locomover bem, mas depois iam progressivamente piorando a cada ano e gradativamente mais deles iam para cadeiras de rodas, e finalmente havia aqueles que tinham tantos aparelhos de suporte ligados às suas cadeiras que eu me perguntava se os veria novamente no próximo ano”.
Yardley-Nohr disse que se tornou uma massoterapeuta por causa de um amigo que tinha distrofia muscular. “Cinco ou seis anos atrás ele estava sob tremendo stress – sua mãe estava morrendo de câncer e sua distrofia progredia ferozmente. Sentia constantemente dores excruciantes nas costas no pescoço. Eu esfregava suas costas e ele dizia : “Você tem um toque maravilhoso”. Ele se tornou minha cobaia enquanto eu fazia curso de massagem e, desde então, um cliente regular, com uma ou duas sessões semanais. Ele inventou uma rotina de alongamentos que faz todas as noites durante 30 a 40 minutos. Atualmente sua doença está afetando sua coluna lombar e quadris, e sente muita dor. Ele disse, “A sua massagem é a única coisa que me sustenta”.
Quando pessoas com sérias limitações de movimento encontram massoterapeutas como Yardley-Nohr, os resultados são maravilhosos. Mas muitas pessoas em cadeiras de roda não estão tendo o toque que necessitam, e as consequências, embora lentas, são sérias.
A saúde de todos os sistemas do corpo depende de movimentação ativa e regular. As pessoas que estão limitadas ao uso da cadeira de rodas ou tem seus movimentos restritos, tem uma circulação sanguínea e atividade neurológica diminuídas; seus músculos atrofiam e encurtam criando contraturas (articulações rígidas, que não se abrem normalmente). Com uma circulação sanguínea deficiente a pele enfraquece: irritações seguidas de ulcerações, e eventualmente poderão surgir ferimentos abertos e tão profundos que será impossível um enxerto de pele. Indigestão e prisão de ventre são problemas frequentes. Geralmente desenvolvem escoliose (curvatura lateral da coluna), o que comprime o peito e predispõe a problemas respiratórios e cardíacos.
A mente também é afetada por perdas significativas de movimento. As dores crônicas podem se tornar tão fortes que remédios podem ser a única forma de suportá-las. Resistir à depressão torna-se um desafio; tudo fica mais difícil de fazer quando se está incapacitado, os estressores ficam muito aumentados, e as pessoas incapacitadas comumente se sentem estranhas, diferentes – não se parecem com aquelas que veem na televisão e nas capas de revistas.
Quando o movimento ativo é seriamente limitado ou impossível, o toque – massagem, movimento passivo e movimento assistido – fazem muito para prevenir essas perdas físicas e emocionais. Podem até revertê-las, criando novas possibilidades de movimentos ativos e novas esperanças.
Quando o sexagenário Gene Carlson começou a receber suas primeiras sessões de massagem há 18 meses atrás, ele tinha que aguentar indescritíveis limitações devido à esclerose múltipla. Esclerose múltipla é uma doença progressiva na qual a bainha de mielina, que isola os nervos no cérebro e na medula espinhal, degenera. Os sintomas podem incluir paralisia, perda de sensitividade , incontinência e problemas de visão. Carlson, além de cego, estava paralítico da cintura para baixo; a parte superior do corpo estava fraca e enrijecida, seu ombro esquerdo quase paralisado. E, naturalmente, estava muito deprimido.
Carlson começou então a ser atendido por Fred Baker, um dos 10 massagistas voluntários licenciados pela Associação de Esclerose Múltipla de King County em Seattle no estado de Washington. Carlson tem um atendimento gratuito de Baker a cada duas semanas através
desta Associação. “A maior parte do meu trabalho com Gene e outros pacientes com esclerose múltipla é com o método somático, do Dr. Thomas Hanna (Ph.D)”disse Baker. “Também utilizo terapia neuromuscular e massagem com técnicas de Self-Healing (auto cura) que aprendi em vários cursos. Quando não existe mais controle motor eu faço uma variação de movimentos passivos como vibrações, sacudidelas e rolamentos entre outros – de minha criação, influenciado por Milton Trager e outros”.
Em pouco tempo Carlson sentiu melhoras e passou a ter sessões semanais, pagando pela diferença. “No início ele estava motivado, mas ainda deprimido; isso mudou com o tempo” disse Baker. Após três meses de tratamento ele se sentiu mais forte, e motivado para iniciar um trabalho com um fisioterapeuta. Eu o auxiliei no seu programa e agora ele faz diariamente exercícios com toda superior do corpo, com levantamento de peso com ambos os braços, inclusive com o ombro que estava quase paralisado. Seus médicos estão surpresos como seus braços e pescoço estão flexíveis, e com a poderosa força física de seu tronco e membros superiores; ele possivelmente pode se erguer sozinho numa barra de flexão – tudo isso em 18 meses. Ele está atualmente se exercitando nas barras paralelas para readquirir os movimentos das pernas. Ele ainda tem esperança de recuperar sua visão. Gene é um fenômeno.”
Baker também trabalha com pessoas que tem o mal de Parkinson, um distúrbio cerebral que causa tremor, rigidez muscular, fraqueza e marcha caracterizada pela, dificuldade de iniciar, lentidão, instabilidade e falta de equilíbrio. “Aprendi um pouco do método Trager, que funciona bem com o Mal de Parkinson. Tenho aplicado em meus pacientes e eles estão progredindo. “É realmente eficiente” – disse Baker.
Uma mulher acamada há oito anos, paralisada devido a ferimentos em um acidente aéreo, durante vários anos tentou encontrar, em vão, um fisioterapeuta ou um massoterapeuta que pudesse atendê-la,. Quando Schneider e um fisioterapeuta concordaram em atendê-la, ela ficou tão motivada que se exercitava em sua casa com um programa de sete horas diárias. Na última vez que Schneider esteve com ela, ela já havia recuperado a fala e podia se alimentar sem ajuda, podia se locomover em sua cadeira de rodas, caminhar curtas distancias com aparelho, e havia se mudado da casa dos pais para morar independentemente”. “Essas pessoas não esmorecem”- disse Schneider. “Muitas pessoas os descartam, inclusive os da classe médica. Eu tive um médico em um dos meus cursos que disse que ele não aceitaria esse caso, e eu perguntei: “Então para quem você a encaminharia?”
“Médicos e fisioterapeutas trabalham com os problemas secundários a essas condições à medida que eles surgem. Para obter resultados significativos eles precisariam trabalhar com esses pacientes diariamente de forma a construir resultados gradativamente. Eles não fazem isto, porque não se enquadra ao seu modelo de intervenção, geralmente mais drástico, como medicamentos e cirurgias. A fisioterapia só é utilizada nos casos em que poderão ser obtidas grandes mudanças funcionais com um número limitado de sessões de 20 minutos de duração. Mas existe um profissional da área da saúde que tem um quadro referencial de tratamento mais amplo, que incentiva a intuição, a criatividade e uma forte consciência corporal, e que tem potencial para promover melhoras reais e adiar/minimizar as terríveis consequências das limitações de movimento e paralisias. É o terapeuta corporal. Esta é a profissão que pode fazer a diferença”.
Schneider continua: “Pessoas com severa fraqueza ou paralisia tem necessidade premente de tratamento corporal. Elas precisam de alongamento, de uma circulação melhor, e até mesmo uma sacudidela nos ombros é um prazer. Nos meus 24 anos de trabalho corporal ajudei umas 300 pessoas a superar paralisias e também conheci e soube de milhares de outras que também obtiveram sucesso. Aprendi que, como terapeuta corporal, temos o que eles necessitam – um toque sensível. Encontre o toque que lhes é agradável.
Não tenha medo de tocá-los e não assuma que você não os pode ajudar. Você pode ser a pessoa que os devolverá sua disposição e qualidade de vida.
Schneider acredita que 90% das paralisias podem revertidas ou eliminadas.
Ele acredita que boa parte de nossas expectativas estão limitadas ao restrito progresso obtido até o momento. “Até mesmo a pessoa incapacitada fisicamente – que está lutando para poder ter uma vida independente, fazendo coisas belas, tendem a acreditar, como a maioria de nós, que sua condição está talhada em rocha em pedra (destino), mas não está. Não existe pesquisa sobre como isso poderia ser diferente se fosse dado mais atenção à essa coletiva falta de esperança.
Estes são os princípios que Schneider e outros terapeutas consideram importantes ao lidar com paralisias e movimentos limitados:
*A dor é um excelente guia. Se durante a massagem o seu toque é agradável, não produz dor, ou reduz a dor, você está no caminho certo.
Há 19 anos atrás, Darlene Cohen, com 35 anos, adoeceu com artrite reumática.
Pouco depois começou um tratamento com Schneider. Conforme ela descreve em seu livro – “Arthritis – Stop Suffering, Start Moving” , a dor dela era tão intensa que “eu não suportava ser tocada e me encolhia aos dedos de Meir.
Porque eu não ousava me mexer, eu recusei a fazer os exercícios que me foram recomendados.. Meu corpo se sentia como uma gaiola, denso, pesado e fechado.
Sentia contrações em meu peito cada vez que respirava. A prática do Self-healing manipula sensações, pensamentos, percepções e sentimentos que você é capaz de observar a fim de melhorar a sua saúde…. focalizando as reais sensações do meu corpo, comecei a perceber pequenos movimentos aqui e ali, partes em meu corpo que não estavam paralisados ou dolorosos. Descobri que podia fazer pequenos movimentos com meu peito sem sentir dor e assim pela primeira vez em muitos meses pude começar a respirar com prazer. Essas partes do meu corpo me traziam tanta alegria que se tornou o meu refúgio constante, como um gato que se deita ao sol em seu lugar predileto. Senti que podia movimentar minhas coxas juntas e separadamente quando eu deitava de costas.
Sentia prazer nessas pequenas e localizadas partes do meu corpo fóssil e comecei a expandi-las à outras áreas de movimentos mais limitados do meu corpo. Este foi o início da recuperação de Cohen. Ela acabou se tornando uma massoterapeuta e hoje ela também ensina métodos de recuperação para a artrite e o controle da dor.
*Tenha em mente que órgão do corpo está fraco, para saber onde você deve ter cautela. A Artrite é uma doença das juntas. Você deve tocá-las e movimentá-las com suavidade. Porém se os músculos não estiverem atrofiados você pode tocá-los com mais vigor. A Distrofia Muscular é uma doença do músculo, assim, evite fatiga-los em seu programa de exercícios, e toque-os somente com leveza. Porém na Distrofia Muscular as juntas não são motivo de preocupação, assim pode-se jogar os braços ou as pernas de uma mão para a outra com movimentos suaves sem criar quaisquer danos às outras partes afetadas. Com uma crise recente de artrite você precisa evitar impactos fortes no seu programa de exercícios, tornando-o mais curto e frequente.
Com Pólio você pode trabalhar mais com os músculos mais fracos, mesmo depois de fatigados – porque a perda foi um incidente isolado, onde o vírus matou o sistema nervoso que traz o estímulo nervoso da coluna vertebral para a periferia. O importante é que você tem que descansar, relaxar e enrigecer os músculos mais fracos para que você crie uso mais balanceado.
***** Não consegui traduzir este trecho*****
*Considere se a paralisia é causada por ferimento ou doença ou se é secundária (por outras razões). “Eu tive uma cliente que perdeu a força nas suas panturrilhas devido à Esclerose Múltipla” lembra Schneider. “Isso em si não impedia que ela caminhasse porque ela compensava esse enfraquecimento estressando seus quadris tanto que ela necessitou usar muletas e mais tarde cadeira de rodas. Então, ela ganhou maior movimentação quando relaxamos os seus quadris através de massagens e movimentos o que não é muito difícil.
“Muitas vezes submeto meus clientes com Pólio a um desafio impossível para os músculos enfraquecidos. Vered, uma das minhas primeiras clientes em Israel, e agora uma instrutora de Self-Healing, tinha tido Pólio”, continuou Schneider. “Quando eu a conheci, ela costumava arrastar sua parte esquerda fraca para traz conforme caminhava. Trabalhamos nela com afinco, e ela ficou suficientemente forte que conseguia erguer seu pé esquerdo 10 cm do chão. Um ano mais tarde em um treinamento em São Francisco, pedi que ela colocasse seu pé num banquinho de 20 cm de altura. Ela disse: “Você está louco”.
Mandei que erguesse seu pé na mesa de massagem a uma altura de 10 cm. Ela riu para mim mas tentou fazê-lo. Fiz-lhe uma massagem shaking/releasing e pedi-lhe que colocasse o pé no banquinho, e ela conseguiu. Ao imaginar que tinha feito algo impossível, ela extravasou a fé que advém da emoção traumática da experiência da paralisia. Eventualmente, ela conseguiu erguer a perna na mesa, e literalmente tombou de costas atônita. Integrar-se a uma repentina melhora é uma emoção grande para qualquer pessoa, requer muito esforço.
*Pessoas com paralisia ou movimentos limitados, principalmente com problemas no sistema nervoso, necessitam de exercícios em prol do equilíbrio e da coordenação motora. Se um derrame ou um trauma na cabeça afeta a visão de seu cliente, tente tampar as áreas com que ele vê bem e faça com que ele use as que não estão funcionando tão bem.
*Descubra movimentos que seu cliente não conheça. O terapeuta Dror Schneider lembra-se, “Eu estava trabalhando com uma criança com problemas sérios de paralisia (dano cerebral durante a gravidez ou primeira infância, resultando em perdas de movimento e postura não progressivas), a qual não apresentava qualquer movimentação voluntária. Após algumas sessões de massagem, nós a levamos a uma piscina aquecida. De repente, ela conseguiu chutar! Você tinha que ver o prazer estampado em seu rosto.”
*Procure a posição ou ângulo mais apropriado para o movimento — eliminando o efeito da gravidade, por exemplo, com o indivíduo deitado e movendo suas pernas para os lados — ou mesmo usando a gravidade em favor do movimento. Meir Schneider tem cuidado de vários clientes com danos na medula espinhal, incapazes de movimento ou sensação na metade inferior do corpo. “Posso posicioná-los de bruços, flexionar ao máximo seus joelhos e gritar: ‘Estique sua perna’. A gravidade está trabalhando em favor deles, assim, tudo que eles precisam é de um pequeno esforço. Esta é uma das maneiras que encontro para criar movimentos dos quais eles não estavam conscientes de possuir. Numa situação como esta, todo desafio deve ser razoavelmente possível de execução. Uma vez que o cliente descobre um novo movimento, deixe-o divertir-se com ele e desenvolvê-lo ao máximo; isto levará seu cliente aos passos seguintes.”
*Esteja consciente de que, em nossa civilização ocidental, à medida que as pessoas envelhecem, elas mantêm movimentos cada vez mais estereotipados e limitados e muitas vezes se esquecem que muitos movimentos são possíveis. Certa vez, durante uma conversa com um amigo saudável, inteligente e bastante educado, Schneider sugeriu que este movesse seus ombros, obviamente tesos; então, o homem perguntou, com toda a seriedade, “Ombros podem se mover?”
Ana Paula Figueiredo, uma terapeuta ocupacional e aluna avançada de Auto Cura de São Paulo, Brasil, trabalhou com uma cliente que sofria de um distúrbio no sistema nervoso e apresentava este tipo de conjunto de problemas, bastante em voga — “baixíssima consciência corporal, corpo e mente rígidos e tensos, ausência de relaxamento — o corpo torna-se tão cansado, tão endurecido, e precisa tanto ser massageado”, disse Figueiredo. “Tenho trabalhado com este cliente há dois meses, e o mais triste disso é que a doença piora todos estes sinais que me parecem ter sido causados por ela, apesar de não poder provar isto.”
A forma como ela trabalhou com este cliente ilustra a maioria dos princípios que temos discutido. “Ele andava como um robô —juntas, músculos, tudo rígido, tenso. Ele é um policial de 56 anos de idade — um trabalho muito estressante, de turnos longos. Há dois anos, ele teve diagnosticada uma ataxia cerebelar [uma doença cerebral degenerativa, que resulta em uma marcha espasmódica, cambaleante e outros movimentos descoordenados (o cerebelo tem papel importante na manutenção da postura, equilíbrio e coordenação motora)]. Ele não conseguia andar por si próprio; quando sua esposa tentava ajudá-lo, ela geralmente caía com ele, que era um homem de estrutura grande. Ele não podia ficar em pé sozinho, sem cair e ao comer, derrubava a comida do garfo ou não conseguia colocá-la na boca. Seu trabalho tornou-se ainda mais estressante —ele não conseguia fazer nada. Ele não estava a ponto de perder seu emprego, mas sentia-se tão deprimido com isso que dizia, ‘Às vezes é melhor morrer’. É bastante duro ser um aposentado no Brasil, por causa da inflação.
“Ele melhorou bastante logo nas duas primeiras sessões” disse Figueiredo. “A massagem neurológica (de Auto-Cura) relaxou-o, liberou a tensão muscular, aumentou a circulação, criou uma conscientização corporal e, com a movimentação passiva do pescoço, ombros, cotovelos, quadris, joelhos e pés, uma maior mobilidade das juntas quebrou seu padrão de rigidez, mostrando para o cérebro outras possibilidades. Fizemos alguns exercícios para a coordenação motora, como andar para trás e para os lados. Ele respirava de forma bastante superficial, portanto, trabalhamos a inspiração e o fôlego por períodos cada vez mais longos.
“Seus pés pareciam congelados (imóveis) em seus sapatos; ele não gostava de tirá-los para fazer os exercícios”, continuou Figueiredo “Ele não conseguia mover os dedos. Pés congelados tendem a limitar o movimento do corpo como um todo. Eu sempre presto atenção nisto logo que começo com um novo cliente. Nós fizemos vários movimentos, principalmente circulares, com seus pés e dedos, parando sempre para visualizar leveza e facilidade nas rotações.
“Eu mudei sua idéia quanto a permanecer em pé. Quando sentado, eu dava tapinhas leves, circulares, em seu abdômen, ao redor do umbigo, ensinando-o a sentir seu centro. Eu pedia para que ele fizesse o mesmo com suas coxas e visualizasse a força que elas tinham, que seriam elas, não as costas ou o abdômen, as responsáveis por mantê-lo em pé, e pedia que visualizasse a conexão entre seus pés e o chão. Durante a segunda sessão, ele ficava em pé e andava para frente e para trás sem ajuda. Depois de três sessões, ele retomou a habilidade de abotoar a camisa e se vestir sozinho”, disse Figueiredo. “Se ele quiser continuar melhorando, vai ter que se libertar da postura depressiva que vê o corpo como um inimigo que o traiu. Ele terá que fazer o programa de exercícios de casa regularmente — não há como progredir de verdade sem ele — e continuar melhorando seus movimentos e desenvolvendo sua percepção corporal.” Ao que tudo indica, as partes saudáveis do cérebro assumiram algumas das funções perdidas e maiores deteriorações puderam ser evitadas.
Com o passar dos anos, Schneider tem percebido cada vez mais a importância da documentação científica de seus resultados. “Com uma pesquisa bem feita, podemos convencer as associações de apoio à distrofia muscular (DM) de que existem outras possibilidades para os pacientes de DM além dos analgésicos e cadeiras de rodas — podemos obter credibilidade. Devemos tornar este trabalho disponível para aqueles que, hoje, não têm recursos para desenvolvê-lo — a pesquisa pode levar à cobertura pelos planos de saúde. Como massagista, quero ver nossa profissão tornar-se respeitada a partir de seus progressos; existem trabalhos sensacionais para serem feitos — e pesquisa é fundamental para isto.”
Schneider é confiante quanto a estes objetivos, já que seu método de Auto Cura é objeto de vários estudos científicos. Dois desses estudos ainda não foram terminados, um terceiro, projeto de tese para pós-graduação na Universidade Estadual de São Francisco, foi apresentado por Carol Gallup, na Conferência Nacional de Educação da Associação Americana de Massagem, em junho.
Todos os estudos se referem ao trabalho de Schneider com DM. A doença é ideal para pesquisa por ser inexoravelmente progressiva. A profissão médica não tem meios para impedir seu progresso ou revertê-la. Nenhum estudo prova nada, mas a melhora bem documentada conseguida com pacientes com DM sugere que ao menos parte do programa terapêutico é eficaz, já que esta melhora seria impossível de ocorrer por mero acaso — não há melhora espontânea. Normalmente, inicia-se o estudo com um único assunto ou caso, para explorar os possíveis resultados e afiar suas ferramentas de pesquisa; depois amplia-se o estudo. Isto faz com que se tenha mais de um grupo de pesquisa estudando tal assunto.
DM é um grupo de distúrbios que apresentam um resultado comum: fibras musculares frágeis que se sobrecarregam e se danificam facilmente, e depois morrem. As fibras musculares mortas podem ser substituídas por gordura ou tecido conjuntivo. Músculos distróficos geralmente encolhem e parecem perdidos, mas se a substituição for feita por tecido conjuntivo em abundância, eles se tornam volumosos e assumem uma consistência bastante fibrosa. Esta é a chamada pseudo-hipertrofia, um sinal clássico da DM de Duchenne — ironicamente, o jovem paciente com DM parece ter as panturrilhas de um atleta. As distrofias musculares diferem umas das outras de acordo com o gene e músculos afetados, quando começa a aparecer e em que sequência se manifesta. A ciência identificou somente dois dos genes responsáveis — um causa distrofia miotônica, que ataca vários sistemas do corpo, variando de leve a mortal; a outra causa DM de Duchenne, que se manifesta de maneira precoce, rápida e mortal, além de duas outras formas mais brandas: Becker e portador sintomático Duchenne.
O tratamento de Schneider para DM começa com a sequência de três técnicas de massagem capazes de liberar a tensão do músculo, melhorar a circulação local além de criar uma sensação de acalanto.
A primeira técnica, chamada Massagem de Manutenção da Auto Cura, é um movimento leve, circular, feito com as pontas dos dedos (use todos eles), que percorre paciente e repetidamente todo o músculo distrófico por 30 a 90 minutos, enquanto você visualiza a penetração profunda dos toques. Deve haver uma percepção muito grande das pontas dos dedos, que têm que estar bastante vivos. Se um músculo está muito distrófico, no início será preciso trabalhar muito suavemente, tocando quase que somente os pêlos sobre a pele, ou a área adjacente ao músculo. A massagem está dando resultando quando podemos perceber o aumento do tamanho e do tônus muscular.
A segunda, chamada Massagem de Liberação da Auto Cura, feita somente após a observação do inchaço, libera a tensão muscular. É esta a maior ferramenta para reduzir a substituição de músculo por tecido conjuntivo, que tende a diminuir com a massagem. Espalme as mãos, separe bem os dedos e chacoalhe-os bem levemente.
A terceira técnica, chamada Massagem de Construção da Auto Cura, pode começar a ser feita semanas ou meses após as duas primeiras. É necessária a observação do inchaço local antes de dar início à massagem. A Massagem de Construção consiste na rotação suave dos dois polegares sobre o músculo, exercendo uma pressão pouco maior que aquela atingida na Massagem de Manutenção. Alterne as três técnicas de massagem.
Quando a musculatura responde bem à massagem, introduzimos o movimento passivo ao programa. O próximo passo, geralmente dentro de 4 ou 5 sessões, é a movimentação ativa, geralmente na piscina, aproveitando o efeito antigravitacional da flutuação e a resistência, baixa e homogênea, oferecida pela água. Muitos dos movimentos são frontais, planos ou circulares, além do padrão sagital (para frente e para trás) usado.
Os movimentos circulares, em especial, tendem a criar novos padrões de recrutamento muscular. Se o músculo estiver muito enfraquecido, o número de repetições será pequeno a princípio, aumentando gradualmente. O corpo começa a se tornar mais homogêneo e relaxado à medida que a resistência vai sendo aumentada com estes exercícios.
Desde que a terapia de Auto Cura parece especialmente eficaz nos casos de distrofia facio-escápulo-umeral (DFEU), uma das formas mais brandas de DM, Gallup decidiu acompanhar um paciente com este problema para estudo. A doença afeta cerca de uma em cada 20.000 americanos; os pesquisadores acreditam que estão próximos da descoberta do gene. A DFEU é caracterizada pelo aparecimento precoce de sinais de enfraquecimento e perda funcional na face, ombros e metade superior dos braços, mas outras partes do corpo também podem ser acometidas durante o progresso da doença. Pessoas que apresentam DFEU podem ter problemas ao falar, assobiar, mastigar, fechar os olhos, levantar e carregar objetos, tentar alcançá-los em prateleiras altas, andar, e muitas outras funções; alguns acabam em cadeiras de rodas. O padrão de perda muscular é caleidoscópico tanto em nível microscópico (o músculo é uma mistura de fibras musculares saudáveis, danificadas e mortas) quanto macroscópico (por exemplo, um bíceps fraco e um deltóide forte em um braço e o inverso no outro).
Os estudos sobre DM geralmente medem grandezas como força, velocidade de resposta ou composição de uma área seccionada. Gallup se preocupou, no entanto, com a mudança funcional. Mudanças na força ou volume de músculos específicos foram traduzidos como melhora funcional e a função o ponto de partida para o paciente incapacitado. Sua ferramenta de menção, a análise cinemática — um casamento entre educação física e bioengenharia que se tornou possível com a fotografia e, mais tarde, o cinema — dá acesso a valiosas informações sobre esportes e reabilitação de qualquer movimento, muitas das quais não disponíveis no passado. Também oferece uma certa confiabilidade; em caso de dúvidas, o filme sempre pode ser revisto.
Gallup também teve muita sorte em poder trabalhar com um dos maiores contribuidores neste campo, Joseph R. Higgins, Ph.D., além de outros profissionais do Kinesiology Department, Universidade Estadual de São Francisco. “O departamento é incrível”, disse Gallup. “Você se afasta por alguns dias e, ao retornar, encontra câmeras melhores, mais computadores, um novo EMG dinâmico (um eletromiograma produz um registro gráfico da contração de um músculo, que ocorre como resultado de um estímulo elétrico), gente se preparando para apresentar novos dados em alguma conferência. Um novo membro trazido para a faculdade havia revolucionado a natação. No dia em que entrei no departamento pela primeira vez, um professor me disse, com lágrimas nos olhos, que ele havia acabado de receber um equipamento do mesmo modelo encontrado em foguetes, tecnologia de ponta.”
Na análise cinemática, o objeto é filmado executando certas tarefas; centros de juntas importantes são marcadas com uma fita refletora. Depois, sequências de imagens captadas pelo vídeo são passadas individualmente para um programa de computador. Programas não-digitais, apresentam os quadros um a um, e requerem que o operador digite cada um dos centros juncionais da sequência. O programa compara a localização das marcas com uma vara de medida conhecida fixa na própria imagem, para gerar os dados de distância métrica, velocidade e aceleração. Ele também provê dados sobre o ângulo, velocidade angular e aceleração da junta e segmento do membro em questão.
Gallup filmou seu objeto, Karen Myers, uma mulher de 31 anos, com DFEU, executando várias atividades funcionais, em um período base de três semanas e, depois, durante os 5 meses e meio de terapia com o método de Auto Cura de Meir Schneider. Myers comparecia a 3 ou 4 sessões semanais. Uma das atividades foi sugerida pela própria Myers após quase 4 meses de terapia. Durante uma sessão de filmagens em 1995, Myers contou a Gallup que em uma visita recente a um festival de artes, ela descobriu que podia carregar um prato de pizza no nível da cintura, algo que um bíceps braquial bastante distrófico tinha tornado impossível nos últimos 3 ou 4 anos.
“Normalmente, eu carregaria o prato de comida com minha mão esquerda e o refrigerante com a mão direita, deixando o braço pendurado pois era um esforço muito grande mantê-lo suspenso por mais do que alguns segundos, com o braço direito. Então notei que eu estava carregando o refrigerante com minha mão esquerda e o prato de comida com a direita, e eu não precisei parar para apoiar o prato ou mudá-lo de mão. Aí gritei, ‘Ei, Lisa (para uma amiga)! Estou carregando um prato de pizza!’ Eu me senti feliz por horas. Aquela era a primeira vez que eu percebi ter havido uma grande melhora nas minhas habilidades, que meu corpo só havia executado naturalmente uma ação, porque se tonou forte o bastante para isso.”
Gallup pediu que ela carregasse um peso de um quilograma (2,2 libras) frente à câmera até que ela sentisse que o músculo começava a se cansar. Myers carregou o peso ao nível da cintura por mais de meio minuto. Myers foi examinada por seu neurologista antes e depois da terapia. Ele constatou que a força do bíceps direito havia aumentado de 40% do normal no ano anterior, para 80% do normal, além de ter havido uma melhora quanto à força de outros músculos, também.
Gallup viu que o progresso de Myers em andar ficou ainda mais claro no “evento plataforma”. Pessoas incapacitadas têm que lidar com o meio-fio das calçadas e degraus baixos, então Gallup criou uma plataforma baixa para estimular o indivíduo, acompanhando com cuidado os momentos de maior desafio — quando a musculatura enfraquecida do quadril excentricamente, ou ao se esticar, para que Myers descesse da plataforma.
Um dos problemas de Myers para andar é o que os fisioterapeutas chamam de glúteo médio flácido — o glúteo médio mantém abaixado o lado do quadril da perna em que nos apoiamos, permitindo que o lado do quadril da perna que está indo para frente, se erga passivamente, assegurando a formação de um vão entre o chão e os dedos. Quando o glúteo médio e seus auxiliares estão enfraquecidos em um dos lados, a pessoa levanta o quadril oposto passivamente, levantando o ombro e, assim, quadril e ombro do lado da perna de apoio se aproximam, enquanto quadril e ombro do lado oposto são separados. A distância patológica mostrada por Myers entre ombro e quadril mostrou uma pequena melhora nos julgamentos feitos quando ela descia da plataforma.
Myers tem problemas para controlar a metade superior de seu corpo ao descer da plataforma. Ela tende a se inclinar para trás ao se apoiar sobre uma perna; isto reduz o esforço proposto aos músculos extensores enfraquecidos, e aumenta a carga depositada nos flexores, muito mais fortes. Há uma diminuição discreta da inclinação para trás, durante este período crítico entre os primeiros e os últimos julgamentos.
Depois da segunda perna descer da plataforma, a perna de apoio passa a suportar todo o peso do corpo, mas ainda assim costuma manter-se bastante reta — as pernas de Myers, no entanto, apresentavam uma curvatura ou flexão anormal do quadril e joelho. Diversos parâmetros utilizados mostraram uma melhora modesta do problema a cada avaliação da perna esquerda, mais comprometida.
Gallup esperava uma melhora bastante pequena após uma terapia tão breve. Como a presidente de seu comitê, Virginia Saunders, Ph.D., chefe do Departamento de Psicologia Fisiológica da Universidade Estadual de São Francisco, disse, “A Medicina Clássica se utiliza do canhão — poderoso, intervenções invasivas com efeitos drásticos, inclusive efeitos colaterais. A Medicina Holística se utiliza da zarabatana — terapias suaves, com efeitos muito menores e que levam um tempo maior para se consolidar.” A mudança no bíceps direito de Myers pegou Gallup de surpresa. Ela acredita que a melhora resultou de uma adaptação neuromuscular — mudanças em todos os níveis musculares e nervosos que acompanham os regimes de exercícios. A educação física e a cinesiologia há muito tempo estudam tais efeitos, principalmente com pessoas capacitadas para tal. São necessários mais estudos para que se determine se os efeitos observados diferem quando em objetos com dificuldades funcionais; isto é parte do campo que Gallup quer começar a explorar.
Até que haja um número considerável de estudos sobre os efeitos da massagem, será difícil caracterizar sua contribuição para o mundo. Felizmente, um time do Instituto de Pesquisa do Toque, da Universidade de Miami, chefiada por Tiffany Field, Ph.D., está desenvolvendo tais estudos e ensinando outros massagistas a realizar seus próprios estudos — um sinal encorajador de que a profissão está sendo levada a sério e se estabelecendo no mundo. Gallup vê seu estudo como parte dessa tendência.
Gallup tem planos de conseguir patrocínio para um estudo maior, pela faculdade, com o Departamento de Cinesiologia da Universidade Estadual de São Francisco, utilizando-se de duas novas ferramentas — um sistema dinâmico de EMG, capaz de medir o tempo e intensidade da ação dos músculos envolvidos em um movimento, e uma chapa de força, capaz de produzir informação a respeito do contato com o solo e as forças que afetam o desempenho.
Houve um custo humano para a realização do presente estudo — Myers deixou a família, amigos e emprego na Filadélfia para participar de uma terapia desconhecida, sem nenhuma promessa de sucesso. Ela disse estar feliz por ter tomado esta decisão; “Eu senti realmente uma melhora dramática durante o desenvolvimento da terapia. Minha estamina está muito melhor, até meu equilíbrio melhorou, a força do meu braço aumentou. A massagem é impressionante; parecia que ela mantinha meus músculos e tornava os exercícios mais fáceis, e quando eu estava cansada após os exercícios, ela me confortava. Eu já havia frequentado fisioterapeutas e eles me desgastaram com exercícios, sem me fortalecer. Esta é a primeira vez que pratiquei exercícios agradáveis e que têm sido tão benéficos.”