Meir Schneider e Carol Gallup
Tradução: Susan Collard
Revisão: Beatriz Nascimento
Quando Terrie Yardley-Nohr introduziu terapia de massagem no acampamento para crianças com distrofia muscular em St. Louis, Missouri (EUA), ficou impressionada com a receptividade: “todos queriam deitar-se na maca; foram incríveis os pedidos. Se alguém não podia deitar-se na maca, eu o atendia na sua própria cadeira de rodas. Perguntava-lhes onde queriam que eu os massageasse. Cada um tinha uma dor, ou desconforto peculiar, e alguns tinham regiões dormentes que queriam sentir novamente. Esses jovens necessitavam
desesperadamente ser tocados. Alguns desses corpos na maca pareciam uma bola de borracha, – tanta musculatura perdida tendo sido substituída por tecido conjuntivo.
“Haviam 52 jovens acampados com idades variando de 6 a 21 anos, sendo que 42
estavam em cadeira de rodas”, continuou Yardley-Nohr. “A maioria desses jovens tinham Duchenne (Distrofia Muscular de Duchenne, uma forma fatal de distrofia, cujos sintomas surgem na infância). Podia-se acompanhar toda a história natural da doença observando as diferentes idades – os de 6 anos podiam se locomover bem, mas depois iam progressivamente piorando a cada ano e gradativamente mais deles iam para cadeiras de rodas, e finalmente havia aqueles que tinham tantos aparelhos de suporte ligados às suas cadeiras que eu me perguntava se os veria novamente no próximo ano”.
Yardley-Nohr disse que se tornou uma massoterapeuta por causa de um amigo que tinha distrofia muscular. “Cinco ou seis anos atrás ele estava sob tremendo stress – sua mãe estava morrendo de cancer e sua distrofia progredia ferozmente. Sentia constantemente dores excruciantes nas costas no pescoço. Eu esfregava suas costas e ele dizia : “Você tem um toque
maravilhoso”. Ele se tornou minha cobaia enquanto eu fazia curso de massagem e, desde então, um cliente regular, com uma ou duas sessões semanais. Ele inventou uma rotina de alongamentos que faz todas as noites durante 30 a 40 minutos. Atualmente sua doença está afetando sua coluna lombar e quadris, e sente muita dor. Ele disse, “A sua massagem é a única coisa que me sustenta”.
Quando pessoas com sérias limitações de movimento encontram massoterapeutas como Yardley-Nohr, os resultados são maravilhosos. Mas muitas pessoas em cadeiras de roda não estão tendo o toque que necessitam, e as consequências, embora lentas, são sérias.
A saúde de todos os sistemas do corpo depende de movimentação ativa e regular. As pessoas que estão limitadas ao uso da cadeira de rodas ou tem seus movimentos restritos, tem uma circulação sanguínea e atividade neurológica diminuídas; seus músculos atrofiam e encurtam criando contraturas (articulações rígidas, que não se abrem normalmente). Com uma circulação sanguínea deficiente a pele enfraquece: irritações seguidas de ulcerações, e eventualmente poderão surgir ferimentos abertos e tão profundos que será impossível um enxerto de pele. Indigestão e prisão de ventre são problemas frequentes. Geralmente desenvolvem escoliose (curvatura lateral da coluna), o que comprime o peito e predispõe a problemas respiratórios e cardíacos.
A mente também é afetada por perdas significativas de movimento. As dores crônicas podem se tornar tão fortes que remédios podem ser a única forma de suportá-las. Resistir à depressão torna-se um desafio; tudo fica mais difícill de fazer quando se está incapacitado, os estressores ficam muito aumentados, e as pessoas incapacitadas comumente se sentem estranhas, diferentes – não se parecem com aquelas que vêem na televisão e nas capas de revistas.
Quando o movimento ativo é seriamente limitado ou impossível, o toque – massagem, movimento passivo e movimento assistido – fazem muito para prevenir essas perdas físicas e emocionais. Podem até revertê-las, criando novas possibilidades de movimentos ativos e novas esperanças.
Quando o sexagenário Gene Carlson começou a receber suas primeiras sessões de massagem há 18 meses atrás, ele tinha que aguentar indiscritíveis limitações devido à esclerose múltipla. Esclerose múltipla é uma doença progressiva na qual a bainha de mielina, que isola os nervos no cérebro e na medula espinhal, degenera. Os sintomas podem incluir paralisia, perda de sensitividade , incontinência e problemas de visão. Carlson, além de cego, estava paralítico da cintura para baixo; a parte superior do corpo estava fraca e enrigecida, seu ombro esquerdo quase paralisado. E, naturalmente, estava muito deprimido.
Carlson começou então a ser atendido por Fred Baker, um dos 10 massagistas voluntários licenciados pela Associação de Esclerose Múltipla de King County em Seattle no estado de Washington. Carlson tem um atendimento gratuito de Baker a cada duas semanas através
desta Associação. “A maior parte do meu trabalho com Gene e outros pacientes com esclerose múltipla é com o método somático, do Dr. Thomas Hanna (Ph.D)”disse Baker. “Também utilizo terapia neuromuscular e massagem com técnicas de Self-Healing (auto-cura) que aprendi em vários cursos. Quando não existe mais controle motor eu faço uma variação de movimentos passivos como vibracões, sacudidelas e rolamentos entre outros – de minha criação, influenciado por Milton Trager e outros”.
Em pouco tempo Carlson sentiu melhoras e passou a ter sessões semanais, pagando pela diferença. “No início ele estava motivado, mas ainda deprimido; isso mudou com o tempo” disse Baker. Após três meses de tratamento ele se sentiu mais forte, e motivado para iniciar um trabalho com um fisioterapeuta. Eu o auxiliei no seu programa e agora ele faz diariamente exercícios com toda superior do corpo, com levantamento de peso com ambos os braços, inclusive com o ombro que estava quase paralisado. Seus médicos estão surpresos como seus braços e pescoço estão flexíveis, e com a poderosa força física de seu tronco e membros superiores; ele possivelmente pode se erguer sozinho numa barra de flexão – tudo isso em 18 meses. Ele está atualmente se exercitando nas barras paralelas para readquirir os movimentos das pernas. Ele ainda tem esperança de recuperar sua visão. Gene é um fenômeno.”
Baker também trabalha com pessoas que tem o mal de Parkinson, um distúrbio cerebral que causa tremor, rigidez muscular, fraqueza e marcha caracterizada pela, dificuldade de iniciar, lentidão, instabilidade e falta de equilíbrio. “Aprendi um pouco do método Trager, que funciona bem com o Mal de Parkinson. Tenho aplicado em meus pacientes e eles estão progredindo. “É realmente eficiente” – disse Baker.
Uma mulher acamada há oito anos, paralisada devido a ferimentos em um acidente aéreo, durante vários anos tentou encontrar, em vão, um fisioterapeuta ou um massoterapeuta que pudesse atendê-la,. Quando Schneider e um fisioterapeuta concordaram em atendê-la, ela ficou tão motivada que se exercitava em sua casa com um programa de sete horas diárias. Na última vez que Schneider esteve com ela, ela já havia recuperado a fala e podia se alimentar sem ajuda, podia se locomover em sua cadeira de rodas, caminhar curtas distancias com aparelho, e havia se mudado da casa dos pais para morar independentemente”. “Essas pessoas não esmorecem”- disse Schneider. “Muitas pessoas os descartam, inclusive os da classe médica. Eu tive um médico em um dos meus cursos que disse que ele não aceitaria esse caso, e eu perguntei: “Então para quem você a encaminharia?”
“Médicos e fisioterapeutas trabalham com os problemas secundários a essas condições à medida que eles surgem. Para obter resultados significativos eles precisariam trabalhar com esses pacientes diariamente de forma a construir resultados gradativamente. Eles não fazem isto, porque não se enquadra ao seu modelo de intervenção, geralmente mais drástico, como medicamentos e cirurgias. A fisioterapia só é utilizada nos casos em que poderão ser obtidas grandes mudanças funcionais com um número limitado de sessões de 20 minutos de duração. Mas existe um profissional da área da saúde que tem um quadro referencial de tratamento mais amplo, que incentiva a intuição, a criatividade e uma forte cosciência corporal, e que tem potencial para promover melhoras reais e adiar/minimizar as terríveis consequências das limitações de movimento e paralisias. É o terapeuta corporal. Esta é a profissão que pode fazer a diferença”.
Schneider continua: “Pessoas com severa fraqueza ou paralisia tem necessidade preemente de tratamento corporal. Elas precisam de alongamento, de uma circulação melhor, e até mesmo uma sacudidela nos ombros é um prazer. Nos meus 24 anos de trabalho corporal ajudei umas 300 pessoas a superar paralisias e também conheci e soube de milhares de outras que também obtiveram sucesso. Aprendi que, como terapeuta corporal, temos o que eles necessitam – um toque sensível. Encontre o toque que lhes é agradável.
Não tenha medo de tocá-los e não assuma que você não os pode ajudar. Você pode ser a pessoa que os devolverá sua disposição e qualidade de vida.