O método Meir Schneider de Self-Healing tem como premissa conscientizar o indivíduo de sua responsabilidade sobre a sua própria saúde. Nos atendimentos, procuramos ensinar o paciente a reconhecer seus padrões posturais e a conectá-los com as suas tenções e processos patológicos. Também se busca a quebra de vícios de postura e emocionais, antigos e repetitivos, aumentando, assim, um leque de possibilidades de movimentos, obtendo uma redução de dores, fadigas, estresse e tensões.
No método utiliza-se, de uma forma combinada, massagens, movimentos (do passivo e lento, ao dinâmico), exercícios de respiração, visualização, relaxamento e trabalho monitorado na água, quando possível.
Dentro desta dinâmica tem-se observado o benefício obtido por muitos pacientes, inclusive a reversão de alguns quadros patológicos, como artrite, artrose, espondilites, diversos problemas da coluna, osteosporose, doenças neurológicas degenerativas (esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, distrofia muscular, etc) e problemas da visão (diplopia, glaucoma, hipermetropia, miopia, degeneração da mácula, etc).
A espondilite anquilosante (EA) é uma doença reumática, progressiva, que afeta os tecidos conectivos. Caracteriza-se pela inflamação das articulações da coluna vertebral e de grandes articulações como as dos quadris (sacro ilíacas) e ombros. Pode, às vezes, atingir os olhos e as válvulas do coração.
Os sintomas podem variar de simples dores nas costas à fortes dores nas juntas em geral e em outros locais do corpo. Como resultado, pode-se chegar a uma grande incapacidade, pois há um “congelamento” das vértebras, ou seja, elas vão se fundindo uma nas outras, deformando, e com o decorrer do tempo, vão dificultar um simples passo impossibilitando o caminhar.
A EA faz parte de um grupo de doenças conhecidas como espondiloartropatias, junto com a síndrome de Reiter, alguns casos de artrite psoriásica e a doença inflamatória intestinal (Chron, retocolite ulceratica, etc).
Fabio C.C, 42 anos, foi diagnosticado como portador da EA ao completar 30 anos de idade.
Em suas primeiras entrevistas o paciente relatou que desde os 12 anos sentia o corpo rígido, mas como não havia manifestações de dores, tanto ele quanto os pais consideraram esse fato normal. Na fase adulta, por volta dos seus 28 anos, as dores foram surgindo e, com uma postura bastante comprometida pela tensão e rigidez (com anquilose na região dos quadris e cervical ), procurou um médico ortopedista e, ao submeter-se a exames radiológicos e de sangue , foi ¹ Artigo publicado originalmente no Caderno Técnico e Científico da Revista Nacional de Reabilitação N.19 JAN/FEV. 2003 diagnosticado portador de EA. A partir desta data sua condição foi piorando muito, tanto nível de dores, quanto de limitação articular, expandindo o processo de anquilose para outras regiões do corpo, como virilhas e coluna vertebral. O paciente então, foi medicado com anti-inflamatórios. Fez uso diário de 40 a 50 mg por dia, durante 9 anos consecutivos. A medicação retirava as dores, permitindo levar uma vida normal, porém, continuava piorando as suas condições articulares . Começou a ter dificuldade para dirigir e barbear-se (em função do avanço da anquilose na região cervical). Nessa fase, somado ao uso dos anti-inflamatórios, também passou a tomar medicamento para a gastrite, tranqüilizantes e antidepressivos.
Fabio C. C. chegou ao meu consultório queixando-se de ansiedade, tensão generalizada nas costas, muitas dores articulares nos quadris , ombros e pescoço e dores de estômago.
Tinha uma limitação muito grande, a postura de esquiador e a região abdominal bastante inchada e quase intocável devido ao grau de dor e tensão.
A nível emocional, muita irritabilidade, desânimo, medos e muita raiva pela sua condição física.
Devido a tensão e ansiedade, colocando o paciente deitado numa posição bem confortável, o orientei a executar exercícios respiratórios, pedindo que observasse a aquisição de mais circulação e movimento no seu abdômen. Para obter esta percepção e facilitar o movimento intercalava-os com massagem suave e compressas aquecidas. Instruía, ainda o paciente, a visualizar a expansão e relaxamento do diafragma e de toda a região abdominal durante estes procedimentos.
Aos poucos, decorridos algumas sessões, o paciente foi ganhando amplitude respiratória, bem- estar e confiança para tentar fazer movimentos ao qual não estava mais acostumado, como rolar de um lado para o outro, engatinhar para frente e para trás e andar de marcha ré. Exercícios estes que a principio considerou “esquisitos”, mas, com o tempo, passou a gostar muito e aderiu-os aos seus exercícios diários de alongamentos, vistos o quanto davam amplitude aos seus movimentos.
Sabe-se que o antídoto para esta doença (comprovado e indicado pela classe médica), é a correção do movimento e da postura da pessoa, pois há uma tendência dos ligamentos articulares se endurecer e contrair. Portanto as articulações devem ser estimuladas por meio de movimentos que as alonguem e separem.
No método de Self-Healing se pretende sempre ampliar a quantidade e a qualidade dos movimentos executados. Ao se iniciar os movimentos de rotações articulares e os alongamentos (flexão, abdução, extensão, etc), procurou-se que Fabio estivesse atento à forma de execução destes, pesquisando, junto com ele, quais procedimentos anteriores os facilitavam. Por exemplo, trabalhar com respiração pausada e profunda, principalmente durante a execução dos exercícios ao qual encontrava mais dificuldade. Também, fazia muita massagem nas costas , tentando abrir mais espaço entre suas vértebras e dar, não só amplitude mas ativar ao máximo o fator “circulação” em seu corpo.
Fabio C.C apresentava, como outros portadores da EA, dificuldade de deitar-se de bruços. Isto porque a estrutura nas costas e na cervical cria pressão e, somado a tensão abdominal, gera um grande desconforto e às vezes, até dor, ao deitar-se nessa posição.
Foi preciso desenvolver gradualmente a capacidade de deitar-se sobre o abdômen. Para isso, ensinei o paciente a deitar-se de costas em diversas posições e observar como fazer para rolar sobre o abdômen de um modo mais confortável. E, juntos encontramos uns exercícios que foi facilitando esse procedimento:
Hoje, após dois anos de atendimento, trabalhando juntos uma vez por semana , percebe-se o paciente bem menos ansioso, com maior capacidade de movimentos, mais flexível, com raríssimas queixas de dores do estomago. O abdômen apresenta-se sem inchaços ou qualquer outro tipo de incômodo, sendo possível deitar-se sobre ele por algum tempo, em decúbito ventral, sem o apoio de rolos ou almofadas. Pode-se toca-lo sem problemas.
As crises da doença diminuíram significantemente, ao ponto dele estar a um ano e meio sem necessidade de uso de anti-inflamatórios e antidepressivos. Assim, o paciente não apresentou mais crises de gastrite que eram efeitos colaterais destes remédios.
Concomitante às nossas sessões, F, pratica exercícios na piscina, de duas a três vezes por semana. Continua frequentando seu reumatologista, para acompanhar seu estado de saúde (este solicita exames e prescreve medicações quando necessário).
Disse que hoje tem mais consciência de si e dos cuidados que requer esta doença. Que sente-se 70% (setenta por cento) mais flexível, não somente em relação ao corpo, mas, mais flexível e amoroso consigo mesmo. Passou a “se tratar”, em vez de “brigar” com a sua condição. Ele dorme melhor, se alimenta melhor e, quando se exercita, hoje tem consciência total de tudo que é e não é benéfico para o seu corpo. Os exercícios passaram a ser “fonte de prazer” e não mais um ato mecânico. E esses novos hábitos de vida que adquiriu, essa nova maneira de pensar; como ele mesmo relata:
Percebi , especificamente , neste caso, o quanto é vital e necessário dar atenção e conscientizar o paciente dos seus processos limitantes, tanto físicos, quanto emocionais. O quanto, muitas vezes, mais que ensinar um exercício específico e adequado, um toque e uma palavra amiga, solidária ajudam o paciente a “despertar” para uma nova consciência e uma nova vida. E o quanto isso colabora para a diminuição e até a reversão da condição patológica que ele apresenta.
Temos que recorrer a todas as ferramentas possíveis e disponíveis e atuar de uma forma global, vendo o paciente em sua totalidade (corporal, mental e emocional) e ensiná-lo a desbloquear os poderes inatos que o corpo e a mente possuem de curar a si mesmo.
Com o paciente F., vi e comprovei o quanto é possível, recorrer à própria capacidade do corpo de do organismo, de curar a si mesmo, livre de dependência químicas.
*ODETE ZANCO
É terapeuta Practitioner/Educator Training,- School for Self-Healing (San Francisco –USA) , membro da diretoria da Associação Brasileira de Self-Healing, e especializada em tratamentos da coluna pela Clinica e Escola Fonte Ananda (Dr. Edvaldo C.) São Paulo/SP