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Beatriz Nascimento - Self-Healing para Distrofia Muscular – Minha Jornada

Desde criança tinha alguns sintomas leves, mas a partir dos meus 20 anos tudo foi ficando mais difícil, eu vivia constantemente cansada e estressada. Aos 30 anos, o rápido declínio nas funções musculares devido à distrofia muscular fascio-escapulo-humeral estava me levando a acreditar que o resto da minha vida seria uma dolorosa descida em direção a mais fraquezas, limitações e paralisia. Como professora de Terapia Ocupacional em dedicação exclusiva na Universidade Federal de São Carlos, SP, eu já havia explorado o que a medicina e a reabilitação convencionais tinham a oferecer. E estava longe de ser suficiente. Quando li o Movimento para a Autocura, de Meir Schneider, Ph.D., ficou claro que eu tinha que tentar. Meir havia superado sua cegueira trabalhando intensivamente com seus olhos e sua visão e aplicado esses princípios a doenças graves, inclusive distrofia muscular. Prometi ao meu departamento trazer de volta o método se eles me dessem uma bolsa para estudar com Meir. Foi assim que acabei em São Francisco, em 1989. Durante os nove meses estudando na School For Self-Healing, vivi inteiramente a partir da perspectiva do meu corpo. Além das aulas, eu fazia em média 4 horas diárias de movimentos suaves, automassagem, alongamentos, respiração e visualização. Descansava, dormia, ouvia música e mídia inspiradoras. Também recebia massagem duas vezes por semana, o que preparava os músculos para repetir os movimentos várias vezes. Havia ênfase na consciência corporal e na ativação de músculos que não estavam sendo utilizados. Meu corpo sentiu que finalmente estava recebendo o que precisava.

Alimente a Mente, Mova o Corpo

Experimentei uma melhora impressionante na minha saúde em geral, nos padrões de movimento e na flexibilidade, estimando-se que eu tenha voltado ao Brasil cerca de 40% melhor, depois de apenas nove meses de trabalho. Eis algumas das melhorias que experimentei:

➢ Levantar os braços a cerca de 150 graus, quando antes que eu não conseguia passar dos 90 (nível dos ombros).

➢ Andar por mais tempo sem tropeçar, fadigar ou doer.

➢ Maior controle dos meus braços e mãos, não mais deixando cair objetos ➢ Postura mais ereta – ombros não mais caídos e curvados para frente e lombar menos arqueada.

➢ Mastigar e sorrir mais facilmente.

➢ Movimentos mais leves e graciosos.

Não estava mais estressada nem fisicamente exausta como nos anos anteriores. Ao contrário, estava relaxada, feliz e cheia de entusiasmo para divulgar esse trabalho não apenas no Brasil, mas no mundo. As pessoas precisam saber que mais opções para uma melhor qualidade de vida estão disponíveis agora! Este tem sido meu propósito nos últimos 30 anos.

Mantendo os benefícios na vida cotidiana

De volta a um trabalho com grande demanda na Universidade e totalmente comprometida com a minha nova missão de vida trouxe menos melhoras e novos desafios. A inserção do método na UFSCar permitiu que o trabalho se espalhasse rapidamente. Viajei dando palestras, workshops e cursos de formação; traduzi materiais, atendi clientes e supervisei alunos. Em 2001, criamos a Associação Brasileira de Self-Healing, que chegou a ter mais de cem membros espalhando essa abordagem corporal. Como todo adulto, tive que enfrentar muitas outras crises na vida, o que fez a doença avançar mais rapidamente. A literatura corrobora minha experiência de que o “estresse” é muito prejudicial para pessoas com doenças degenerativas, porque enfraquece o corpo. Devemos aprender a aliviar o estresse e ajustar constantemente o delicado equilíbrio entre as necessidades do corpo, os exercícios diários, os ataques da doença, família e vida social. Nem sempre consegui fazer isso, mas de tempos em tempos fazia curtos intensivos de trabalho corporal. É incrível que em todos esses intensivos, experimentava uma mudança entre “estar rolando ladeira abaixo” para “me sentir saudável e renovada” novamente, e até recuperando algumas perdas. Funciona como um botão “Reset”, provando que toda vez que fazemos nosso trabalho, obtemos resultados. É muito empoderador saber que podemos trazer conforto e prazer ao nosso corpo, mesmo quando a doença progride e o corpo muda. Alguns exemplos do que faço quando estou cansada e estressada são:

➢ Flutuar e mover o corpo muito suavemente em água morna.

➢ Receber massagem de suporte de self-healing.

➢ Alongamentos suaves e movimentos em todas as direções para dar mais liberdade às articulações.

➢ Automassagem.

➢ Aprofundar minha respiração com movimento, massagem e consciência.

➢ Visualizações e meditação.

Também exercito mais vigorosamente as áreas que não estão muito afetadas, mas isso pode ser complicado! Acredito ser mais seguro e produtivo fazer mais repetições com menos resistência, usando toda a nossa amplitude de movimento e movendo-se em diferentes ângulos e planos. A água permite infinitos ajustes de resistência (adequando-se a velocidade do movimento), e é muito divertido. Exercícios na água são os meu favoritos!

Tudo isso funciona sinergicamente para reabastecer a energia do corpo

O Self-Healing (auto cura) não é uma pílula mágica e a distrofia muscular não é uma condição fácil de tratar. Requer dedicação e disciplina diariamente e isto pode não ser factível para muitos. É como praticar para ser um pianista virtuoso – nem todo mundo consegue – mas para aqueles que desejem tentar, compartilho a minha historia como uma forma de oferecer alternativas e encorajamento. No meu caso, valeu a pena. Nos últimos anos, a meditação também tem tido grande espaço na minha vida, dando-me as ferramentas para acalmar a mente, descansar mais profundamente e viver plenamente no presente, ao invés de comparar com o passado ou me preocupar com o futuro. Sempre que a exaustão e a desesperança aparecem, a meditação as dissipam, permitindo-me reencontrar a paz e a felicidade. Recomendo fortemente. Hoje aos 61 anos, quero me concentrar na criação de materiais que perdurem para além de mim, oferecendo às pessoas com doenças debilitantes inspiração e empoderamento para se moverem com mais facilidade, se sentirem melhor e viverem a vida plenamente!


*tradução da autora do artigo publicado na revista da Sociedade Americana de Distrofia Fascio – Escapulo-Humeral – FSH Advocate 2019, issue 2 pag 12, 13.